Em massa, Barcelona clama pela independência da Catalunha
Barcelona foi tomada por mais de um milhão de pessoas que clamavam pela independência da Catalunha. A concentração, que teve como lema “Façamos a República Catalã”, exigiu a aplicação do resultado do referendo de autodeterminação, realizado em 1º de outubro de 2017, data em que a independência da Catalunha teve o suporte de 90% dos eleitores que votaram (43% do eleitorado catalão).
Às 17h14 em ponto, os participantes localizados em uma das extremidades da concentração deram início a uma onda sonora, erguendo seus braços e mostrando cartazes. Aos poucos, tal qual um efeito dominó, metro trás metro a onda sonora foi se aproximando do outro extremo onde, simbolicamente, desabou um muro que representava todas as adversidades, obstáculos e repressão, que impedem a efetivação do resultado do referendo de 1º de outubro. A autodeterminação é um direito reconhecido pela Carta das Nações Unidas e pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, ambos ratificados pela Espanha.
Os discursos de Ben Emmerson, Aamer Anwar e Thomas Schulze na Diada
Além dos parlamentares, estiveram presentes três personalidades de grande prestígio na Europa: Aamer Anwar, advogado escocês de reconhecida trajetória em defesa dos direitos humanos, responsável pela defesa jurídica da ex-ministra do governo catalão, Clara Ponsatí; Thomas Schulze, professor universitário e grande defensor da causa catalã na Europa; e Ben Emmerson, advogado inglês especializado em direitos humanos e direito internacional, atualmente encarregado de defender, perante as Nações Unidas, o presidente Carles Puigdemont e outros políticos catalães.
Aamer Anwar se referiu ao direito à autodeterminação como um direito “fundamental”, e elogiou os catalães por terem construído um movimento que sempre esteve de acordo com os princípios “do internacionalismo, da justiça, da igualdade e da liberdade”. Afirmou, também, que “o silêncio não é uma opção para os que estão ao lado da justiça”.
Anwar fez duras críticas ao papel do Estado espanhol, afirmando, com veemência, que o general Franco estaria muito “orgulhoso” da atual Espanha, que atua como uma ditadura fascista”. Anwar, além disso, enviou uma mensagem a Pedro Sánchez: “Se realmente houver um interesse em encontrar uma solução política para o conflito catalão, deve liberar, sem condições prévias, todos os presos políticos, e permitir que a ex-ministra Clara Ponsatí e os outros exilados voltem sem riscos de serem detidos”.
Ben Emmerson, advogado de Puigdemont e de outros exilados catalães, previu que, daqui um ano, a Catalunha será um país independente em forma de República, trazendo à tona a futura resolução das Nações Unidas, da qual é esperada a confirmação da violação cometida pela Espanha dos direitos políticos, tanto os dos presos políticos catalães quanto os de seus respectivos eleitores.
Para Emmerson, em uma democracia, debater sobre uma mudança política “não é crime algum”. O inglês defendeu o direito a realizar e votar em um referendo vinculante livre da “violência” e da “intimidação” da polícia “paramilitar” ao serviço dos interesses “franquistas”, cuja finalidade era forçar o povo catalão à “submissão”.
Finalmente, Emmerson, bem como Anwar, mandou um recado para Pedro Sánchez: “A única esperança de uma solução negociada é uma urgente tomada de medidas antes do início dos julgamentos; em outras palavras, é preciso liberar os presos políticos”.
Thomas Schulze, por sua vez, disse que a Catalunha ganhou o direito de ser livre. Ele rememorou as palavras do presidente americano Kennedy, ditas em visita a Berlim: “Hoje, neste mundo de liberdade, pode-se dizer, orgulhosamente, ‘Ich bin ein Berliner’. Schulze adaptou a frase para o contexto atual, e disse que ele e muitos amigos estrangeiros podem dizer, com orgulho, “Eu sou da Catalunha!”.
A presidenta da ANC, Elisenda Paluzie, exige a efetivação da República Catalã
Elisenda Paluzie denunciou a repressão espanhola ocorrida no referendo de 1º de outubro, e que continua presente. Por outro lado, ela vê que os catalães estão esperançosos e determinados para seguirem, mesmo que diante deles esteja um Estado espanhol pronto para violar direitos tão básicos como a liberdade de expressão e informação, de reuniões, de imprensa e o direito de voto. Além disso tudo, ainda há exilados e presos políticos, cujo “julgamento vergonhoso” acontecerá neste último trimestre.
Ela também destacou o fato de o direito universal à autodeterminação ter sido violado e perseguido violentamente. Os catalães, porém, foram às ruas e votaram de forma massiva. De acordo com Paluzie, os catalães mostraram ao mundo sua determinação para se tornarem uma nação independente, e que o futuro está nas mãos do povo.
Ela também denunciou o fato de a República não ter sido defendida em outubro, após os eleitores e os políticos terem vencido um referendo e duas eleições. A sociedade civil exige, agora, a efetivação da República, e que o governo catalão respeite e faça valer o resultado do referendo de 1º de outubro e o das eleições.
A presidenta concluiu seu discurso dizendo que a República será inclusiva, tanto para a maioria, a favor da independência, quanto para aqueles que não apoiam a independência catalã.
A Diada – Dia Nacional da Catalunha – pelo mundo
A Diada deste ano teve uma marcante presença internacional. Além de Barcelona, mais de 40 cidades espalhadas pelo mundo participaram da celebração, organizada pela Assembleia Nacional Catalã. Um êxito absoluto e sem precedentes. No último fim de semana, grandes cidades na Europa e ao redor do mundo foram palco de reuniões entre catalães e cidadãos locais que simpatizavam e se interessavam pela nossa causa.
Esta Diada pela República Catalã foi a sétima Diada consecutiva em que o independentismo foi às ruas em massa, sempre mostrando, de modo único na Europa, um destacado grau de civismo e pacifismo.